Rede Super Rádio Brasil

Acontece


Post Page Advertisement [Top]

O mercado onde o jiló é rei e a conversa é moeda

O mercado onde o jiló é rei e a conversa é moeda

 


Quem entra no Mercado Central de Belo Horizonte pela primeira vez corre dois riscos: se perder e se apaixonar — não necessariamente nessa ordem. O lugar tem alma própria, dessas que não se mede em metros quadrados, mas em histórias contadas de balcão em balcão.

Logo na entrada, o cheiro já confunde: será doce de leite? Torresmo? Cachaça? Tudo ao mesmo tempo. É como abrir a geladeira da casa da vó mineira: um susto bom. A diferença é que, aqui, você pode repetir à vontade e ainda sair carregando um queijo debaixo do braço.

No primeiro corredor, alguém grita "experimenta aqui, moço!" e te oferece um pedaço de goiabada que derrete na boca. No segundo, uma senhora tenta convencer um turista de que jiló é melhor do que picanha — e, pasme, quase consegue. Porque ali o jiló com fígado é mais que prato: é bandeira. E quem critica não entendeu nada.

O mercado já viveu de tudo: quase foi vendido, quase foi desmontado, mas resistiu — feito mineiro teimoso que só sossega quando a panela chia. Dizem que na época da ameaça de fechamento, os comerciantes se uniram como torcida organizada e venceram na raça. Se isso não é amor ao ofício, não sei o que é.

E no meio de tudo isso tem uma capelinha discreta, ali no canto, onde o povo para pra rezar antes de encarar o batente. Tem gente que acende vela pela saúde, outros pela venda. E tem quem vá só pra agradecer pelo pão de queijo sempre quentinho.

O melhor do Mercado não é o que se compra, é o que se ouve. Tem comerciante que sabe da vida do freguês melhor que a vizinhança. “Dona Maria tá mais calada hoje, deve ser saudade.” E acerta. Ali, o café vem com prosa, e a prosa vale mais que qualquer troco.

E se engana quem acha que o Mercado é só coisa antiga. Tem jovem vendendo kombucha, tem cerveja artesanal, tem até loja com nome em inglês — mas no fundo, tudo termina em pão de queijo e dedo de prosa. Porque BH pode até modernizar, mas com afeto mineiro ninguém mexe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bottom Ad [Post Page]