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O mito da mente pura

O mito da mente pura

            



SAÚDE TOTAL

CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA

O mito da mente pura

A ambivalência não é um sentimento muito interessante de se aceitar, porque acreditamos que ele não deve existir, devido ao fato de sermos muito maniqueístas. Vemos as situações e as ações da pessoas, na maior parte das vezes, em dois polos: bom ou ruim, fácil ou difícil, interessante ou tedioso etc.

Temos sempre o desejo de que tudo ao nosso redor se articulará perfeitamente e que teremos segurança e paz de uma hora para outra.

Infelizmente tal pensar é uma ilusão. A realidade, assim como a vida, é complexa, intempestiva, contraditória, cheia de surpresas boas e ruins e extremamente fluida. E nossa mente também entra nesse bojo.

A chamada mente pura é um conceito de perfeccionismo emocional que todos tendemos a ter. Acreditamos que podemos ter uma experiência emocional que não oscile, seja constantemente linear; para sentirmos sempre alegres, satisfeitos, gratificados e não frustrados.

Diante disso acreditamos que ter sentimentos mistos é um problema. Por exemplo: eu amo minha mãe, tenho ciência de que tudo o que ela faz por mim é para o meu bem, mas diante de algumas negativas dela eu sinto, naquele momento, que a odeio. Também pode ser em relação a enlaces românticos. Podemos estar com alguém que admiramos pela inteligência, pela forma de ver a vida e não achar a pessoa bela. Qual o problema de nos sentirmos assim?

O ódio pela mãe passa em pouco tempo, pois é só uma questão de momento. Todavia, o não ver beleza no(a) parceiro(a) pode ser contínuo, ou momentâneo também, dependendo se o namoro está apenas se iniciando.

A questão é que sentimentos mistos existem e devem ser usados a nosso favor e não contra. Não dá encontrar perfeccionismo nas relações, nas pessoas ou nos lugares. Tudo está em constante mudança como falamos acima. O importante é acionarmos o modo questionamento.

Esta ambivalência, este sentimento misto, vai atrapalhar minha relação comigo mesmo, com os outros ou/e com os lugares em que me encontro?

Precisamos ter clareza com relação ao que a gente sente. Não deixar de validar este ou estes sentimentos, mesmo que sejam mistos. Não existe nada permanente.

Todos os sentimentos fazem com que cheguemos a alguma conclusão. Diante das experiências que vivemos, em que todas são fluídas e dinâmicas, chegamos ao entendimento de que concluir algo pode ser muito ilusório. A única conclusão que devemos ter é de que os sentimentos jamais se concluem. Não dá para ter um fim o que está sempre em movimento.

Assim, entendemos que não existe mente pura. É apenas um mito sem fundamento. Existe apenas um aglomerado de experiências, sentimentos e perspectivas em constante mudanças.

Continuaremos com o assunto na próxima semana.

Um fortíssimo abraço para você. Até a próxima!


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